As aventuras de um coelho

CAPÍTULO I – CADÊ OS OVOS?!

Em um belo dia, uma menina chamada Sofia estava no supermercado com a sua mãe, Lucia. Quando as duas estavam na seção de frutas e verduras, Lucia pegou quatro dúzias de ovos. Mal sabia ela que, durante todo março e abril aqueles seriam os últimos ovos que ela compraria…

No mês seguinte, uma semana antes da Páscoa, Sofia foi ao supermercado comprar um presente ao seu pai, que fazia aniversário na quinta-feira santa. A garota resolveu aproveitar para olhar os ovos de Páscoa, mas, quando chegou lá, teve uma surpresa: não havia nenhum ovo lá!

Enquanto sua mãe pagava as compras, Sofia viu o gerente e foi falar com ele:

– Hããã… Moço, seu gerente…

– Olá! Precisa de ajuda?

– Eu gostaria de saber quando irão chegar os ovos de Páscoa… Sabe, a Páscoa é no domingo, daqui a uma semana!

O gerente olhou sombriamente para Sofia e disse, sussurrando:

– Não recebemos nenhum ovo de Páscoa esse ano ainda! Costumamos receber por volta de um mês antes da Páscoa, mas, este ano, ainda não chegou nenhum ovo de Páscoa! Além disso, alguém raptou todos os ovos (os das galinhas!) faz uma semana! Não temos mais nenhum nas prateleiras, nem no estoque, e não há previsão de chegada de mais ovos das fazendas!

– Nossa! Então teremos que fazer um consumo controlado de ovos, porque em todos os outros supermercados do país não há mais ovos!

– Não sei o que aconteceu com as galinhas… Pararam de produzir ovos do nada… E pior é que algum espertinho resolveu pegar todos os ovos do país! Na certa é uma quadrilha… Vai causar o maior prejuízo, teremos que aumentar todos os preços dos outros produtos para cobrir o prejuízo que deu comprar todos esses ovos e não vender quase nenhum… Bom, vou indo, teremos muito trabalho pela frente… Reforçar todo o sistema de segurança do supermercado…

Esse sumiço duplo deixou Sofia muito intrigada.

CAPÍTULO II – MAIS UM CASO INTRIGANTE

Alguns dias depois do acontecimento dos ovos de Páscoa no supermercado, o pai de Sofia estava vendo o telejornal na sala. Sofia estava lendo na varanda quando ouviu mais uma notícia sobre ovos:

A situação está ficando grave! Ontem à tarde, uma idosa foi assaltada em sua própria casa! Veremos mais informações com Humberto Medeiros. Boa tarde Humberto.

Boa tarde Natanael. É isso mesmo, parece inacreditável, mas, ontem à tarde, Maria da Silva, de noventa e seis anos, estava fazendo um bolo gigante com 150 ovos para a prefeito. Porém, quando estava colocando o segundo ovo na batedeira, foi nocauteada e ficou desacordada por meia hora! O assaltante, infelizmente, não foi descoberto, e não havia câmeras de segurança na casa da idosa. Maria da Silva já voltou do hospital e está novamente em sua casa.

Após ouvir essa notícia, Sofia largou o livro e subiu para o seu quarto, onde ligou para um número que havia procurado na internet. Anotou algumas coisas em uma caderneta e, alguns minutos depois, ela saiu pedalando em sua bicicleta até a delegacia.

Entrando lá, se apresentou ao detetive que estava na porta de entrada e falou para ele o que estava pensando em fazer. Ele ficou impressionado com a inteligência da menina.

– Então você precisa de ajuda de um cão, isso? – perguntou o detetive.

– Isso mesmo – respondeu Sofia.

– Certo. Acho que o Rex é o ideal para ajudá-la. Ele é um pastor-alemão muito inteligente. Vou buscá-lo.

– Ok, espero-o aqui. Muito obrigada Sr. Hamskin!

Sofia foi até a casa de Maria da Silva, a idosa que havia sido assaltada e nocauteada. A garota apertou a campainha e esperou Maria abrir a porta.

– Olá, garotinha. Entre, entre! O que a traz aqui?

– Olá, eu sou Sofia. Você pode me contar o que aconteceu ontem à tarde, quando você foi assaltada?

– Claro! Claro! Entre, sente-se na poltrona.

A menina se sentou em uma poltrona e Maria da Silva se sentou em outra. A idosa contou tudo o que havia acontecido para Sofia, que anotou o que Maria falou em sua caderneta. Depois, comeu um lanche com a idosa (que adorou a garota!) e, após prometer que voltaria mais vezes, voltou para sua casa junto com Rex.

Já em casa, com Rex dormindo confortavelmente em um tapete no seu quarto, Sofia juntou as informações que obteve além das que já tinha e bolou um plano para pegar o assaltante.

CAPÍTULO III – O PLANO QUE FALHOU (OU QUASE FALHOU?)

No dia seguinte, Sofia acordou no alvorecer. Se o surrupiador de ovos estava querendo acabar com todos os ovos mesmo, ele com certeza acordaria às cinco horas para caçar ovos. Talvez nem dormisse…

Ela se vestiu e pegou alguns ovos da geladeira de sua casa, colocando-os em uma bolsinha. Foi até a Rua do Arvoredo, famosa pela sua grande quantidade de árvores e colocou os ovos no chão. Se escondeu atrás de uma árvore e esperou. Cinco, dez, quinze minutos… Quando Sofia já estava quase desistindo, um vulto apareceu e se aproximou dos ovos. Ela colocou a mão dentro da bolsa para pegar o celular, porém… Tinha esquecido dele em casa! Agora não poderia denunciar o assaltante com provas!

O encapuzado (ou talvez “a”) pegou os ovos e saiu… saltitando? Mas parecia que, quem quer que fosse, tinha levado um tombo e estava mancando. Sofia se abaixou para amarrar o cadarço de seu tênis e, quando se levantou novamente, o assaltante já havia fugido.

– Venha, Rex, vamos voltar para casa. Preciso procurar mais ovos – chamou ela.

De repente, a menina percebeu que Rex não estava mais ali! Quando havia amarrado o cadarço, deixou a guia do pastor-alemão no chão, e ele havia fugido!

– Rex! Rex! – chamou ela.

Ela já estava quase indo à delegacia dizer ao detetive que havia perdido Rex quando o cachorrinho apareceu. Sofia ficou tão feliz que nem reparou que ele estava com algo na boca…

Quando chegou na delegacia, estava contando ao detetive que seu plano tinha falhado quando Rex vomitou no chão do canil. Um policial chamou Hamskin e Sofia foi junto com eles, ver se o cãozinho estava bem.

Chegando lá, viram uma coisa preta no vômito de Rex. Parecia até…

– A capa preta que o assaltante estava usando! – falou Sofia animada.

CAPÍTULO IV – MAIS UM ROUBO

É noite. O vento uivava e a chuva cai torrencialmente na rua. Em uma fazenda, ouve-se um portão ranger e passos apressados. Um vulto passa, meio manco, meio pulando, por um caminho até que chega à uma casa. O vulto abre a porta e entra. Uma luz amarelada surge de dentro da casa, vinda da geladeira, e em seguida some. Alguém (a mesma pessoa que entrou na casa) sai, fechando a porta cuidadosamente, e se dirige à outro lugar. Vai até o galinheiro, onde pega os ovos das galinhas e, quando já está saindo, pisa nas penas de alguma delas.

As galinhas começam a cacarejar, e a figura indistinta sai, pulando, onde desaparece entre as folhagens fora da fazenda. O fazendeiro sai de casa para ver o que aconteceu e, quando descobre que todos os seus ovos sumiram, vai procurar quem os roubou, mas não acha nenhuma pista sequer.

CAPÍTULO V – UM NOVO PLANO

No dia seguinte, Sofia estava indo para a escola à pé quando sua amiga Karen chegou. As duas começaram a conversar e Karen comentou:

– Você viu o que deu no noticiário hoje? Ontem à noite um fazendeiro teve todos os seus ovos roubados. Parece que não acharam pistas de quem fez isso, mas a polícia está investigando.

– O quê? Quando deu isso? Está no jornal? – perguntou Sofia.

– Deve estar.

Sofia, após ouvir a resposta de Karen, largou a mochila no chão, pegou dois reais e saiu correndo para a direção contrária da escola. Karen chamou:

– Sofia! Nós temos aula agora, lembra? Você vai se atrasar…

Mas a garota continuou correndo até chegar em uma banca, onde comprou o jornal daquele dia. Em seguida, voltou correndo até onde estava a sua mochila e Karen esperando-a. Mal conseguindo respirar, disse:

– Não vou conseguir ir na aula hoje, depois você me passa o que teve. Preciso resolver uns problemas de última hora.

Sofia saiu correndo e deixou Karen mais confusa do que antes. Chegando em sua casa, a mãe a olha surpresa:

– Sofia?! Você não devia estar na escola?

– A Karen vai me passar o que terá na aula hoje. Eu… não posso ir pra aula – fala Sofia.

– Você passou mal?

– Não é isso. É um assunto referente ao jornal de hoje…

– Não me diga que você vai tentar procurar o assaltante? Olhe, Sofia, isso é um assunto muito sério e perigoso. Esse assaltante, ou essa quadrilha de assaltantes, está roubando os ovos do mundo inteiro! Eu sei que você gosta muito de brincar de investigação, mas deixe esse caso para a polícia.

Sofia ouviu tudo de cara amarrada. Em seguida, correu até seu quarto e pegou um mapa do mundo. Com um lápis, começou a circular os lugares onde o assaltante já havia agido. Depois, pegou uma folha em branco A3 e começou a pensar em um plano. Algumas horas depois, tinha um plano pronto. Ela foi até a delegacia Hamskin (do detetive Miguel, que havia deixado ela ficar com Rex para fazer o primeiro plano) e bateu na porta. O detetive veio abri-la.

– Olá, Sofia! Que surpresa vê-la aqui! Você não me disse que tinha aula pela manhã?

– Hum… tinha, mas eu fiquei meio chocada com mais um roubo de ovos de galinha e desviei meu caminho… Não se preocupe, Karen, a minha amiga, vai me passar as coisas de hoje, logo depois do almoço. Eu tive uma nova ideia para pegar o assaltante, mas precisarei de sua ajuda e de Rex.

– Com prazer! Temos que tentar o máximo de vezes possíveis de capturar o culpado. Mas me diga… qual é o seu plano?

CAPÍTULO VI – QUEM SABE NA PRÓXIMA TENTATIVA?

Os ovos estão posicionados? Câmbio – perguntou o detetive Miguel pelo walkie-talkie.

– Sim, aqui tudo pronto. Câmbio – respondeu Sofia.

– Certo. Estou ouvindo uma movimentação. Câmbio e desligo.

Era noite de sábado. Sofia e Miguel estavam posicionados na Rua dos Fantasmas, a rua mais assombrosa da cidade. Talvez se eles conseguissem atrair o assaltante para uma emboscada, ele não poderia fugir. Miguel havia ouvido um barulho de passos correndo rápidos pela rua. Quando o vulto indistinto chegou mais perto, viu os ovos e começou a recolhê-los. Nesse momento, Miguel saltou à sua frente e gritou, mostrando sua arma:

– Mãos ao alto! Aqui é da polícia!

O ser levantou as mãos, mas antes guardou os ovos em uma mochila. O detetive algemou-as e falou:

– Você será levado para um interrogatório no tribunal, vamos.

Sofia saiu de trás da árvore de onde estava escondida, filmando tudo com o seu celular, para mostrar as provas depois. Quando chegaram ao tribunal, o réu foi interrogado, e, infelizmente, chegaram à conclusão de que não era ele o culpado.

Depois que a sessão no tribunal acabou, o que durou a noite inteira, Sofia foi falar com o homem que havia sido culpado:

– Olá, eu me chamo Sofia. Sinto que conheço você de algum lugar… Qual é o seu nome?

– Olá, Sofia, sou Guilherme Bowen, gerente do supermercado CompreBem. Também sinto que conheço você de algum lugar… Você não é aquela menina que veio me perguntar o que havia acontecido com os ovos de Páscoa?

– Sou! Ei, eu tive uma ideia! Você topa nos ajudar a procurar o culpado?

– Claro! Meu chefe está louco comigo… E minha esposa também! Ela só come ovos! Não sei mais o que fazer…

– Precisamos de outro plano… Vamos lá falar com Miguel, para ver se ele tem alguma ideia?

– Quem?

– Miguel, o detetive… Aquele que achou que fosse você que estava roubando os ovos do mundo.

– Ah, certo. Vamos lá. Mas sem acusações precipitadas dessa vez!

Sofia concordou e, em seguida, eles foram falar com Miguel.

– Não podemos falhar na próxima vez! Descobri que estamos com os dois últimos ovos do mundo! – falou Miguel com a voz grave e sério.

CAPÍTULO VII – A PANDEMIA OVÁRIA

Bom dia, pessoal! Estamos aqui com mais um Jornal Notícia Fresca! Hoje, veremos no JNF: a pandemia que vem assolando o mundo; as medidas que estão sendo tomadas em algumas fazendas do mundo para impedir o roubo dos ovos produzidos pelas galinhas; e muitas outras coisas. Fiquem ligados! – falou Natanael, o apresentador do JFN. – A situação está cada vez pior. Nunca, no mundo inteiro, houve uma falta tão intensa de alimentos, que afetou tantas pessoas. Alguns chegaram a falar que estamos vivendo uma Pandemia Ovária. Muitas pessoas estão morrendo e outras estão tendo que ser internadas em hospitais por causa da falta de ovo….

Sofia, que estava na sala fazendo um dever de casa de Matemática, ergueu os olhos do livro e olhou para a televisão. Em seguida, abandonando totalmente a tarefa, foi para o seu quarto e mandou um áudio pelo WhatsApp para Miguel e para Guilherme:

– Oi pessoal. Tenho uma nova ideia de plano, acho que dessa vez dará certo…

Ela contou a ideia para os dois amigos, que estavam on-line e logo visualizaram-na. Sofia escreveu que iria terminar uma tarefa e estaria livre para bolarem o plano à tarde.

Às 14 horas, Sofia pedalou na sua bicicleta até o Jardim Botânico, onde encontrou Miguel e Guilherme.

– Olá, Sofia! – falaram eles.

– Olá!

Eles conversaram sobre um novo plano, e, ao crepúsculo, já tinham o plano todo bolado em mente. Porém, não poderiam realizá-lo naquela noite, pois era domingo e Sofia teria aula na segunda de manhã cedo…

CAPÍTULO VIII – A RECEITA QUEIMADA, O PÉ QUEBRADO E O MISTÉRIO RESOLVIDO

Na sexta-feira à noite, que era sexta-feira santa, Sofia, Miguel e Guilherme estavam escondidos ao redor do último supermercado da cidade que ainda não havia sido roubado e que, como haviam concluído, seria a próxima vítima. E estavam certos. Algum tempo depois, uma figura encapuzada surgiu no horizonte, e foi até a porta do supermercado, onde estavam os dois últimos ovos do mundo, guardados com muito cuidado durante a semana inteira. Miguel foi até a figura e gritou, mostrando sua arma:

– Mãos ao alto! Identifique-se, ou será preso!

O réu tirou sua capa, revelando-o o…

– O Coelhinho da Páscoa! Como isso é possível?! – falou Sofia admirada.

– Explique-se! O que está fazendo aqui a essa hora? – falou Miguel, espantado por encontrar um culpado tão inusitado, mas tentando manter a postura profissional e ameaçadora.

– É uma história bem longa… Vocês querem ouvi-la inteira? – falou o Coelhinho da Páscoa.

– Vamos ao tribunal – coordenou Miguel.

Depois que todos estavam prontos, o C.P. (Coelhinho da Páscoa) começou a contar sua história:

– Faz algum tempo, um amigo veio me visitar. Ele me pediu a receita de Choconoura, que é um chocolate de cenoura. Eu resolvi dar o meu livro de receitas inteiro para ele, pois minha pata estava doendo muito para escrever e eu não estava a fim de narrar a receita para ele. Porém, depois que ele saiu, recebi uma carta da Fábrica de Chocolates Cacau & Cia. pedindo para eu inventar um novo tipo de chocolate e me lembrei que havia deixado a minha receita padrão no meu livro de receitas. Mandei uma cenouragem, que é uma mensagem de celular dos coelhos para meu amigo, mas ele não me respondeu. Então, resolvi ir até a casa dele, onde fui recebido friamente. No final da visita, ele me disse que havia queimado a receita, e que, se eu não a sabia de cor, já era. Eu fui embora chateado, pois meu chefe confiava que eu era o melhor coelho confeiteiro. No meio do caminho, tropecei em uma pedra, e acabei caindo em cima do meu pé. Eu acho que o quebrei, pois ele está doendo muito… No outro dia, com a perna doendo, parti em direção a um galinheiro, pois havia passado toda a noite pensando que, talvez, eu ainda pudesse salvar a Páscoa com ovos de galinha. Peguei ovos de galinha do mundo inteiro, de muitas fazendas e supermercados, com a ajuda de meus amigos coelhos e também das próprias galinhas. Porém, acabei descobrindo que, transformá-los em chocolate, é uma coisa impossível. Desculpem-me por roubar os ovos de galinhas do mundo inteiro.

Sofia e outros policiais estavam gravando a fala do coelho (que, inclusive, foi transmitida internacionalmente pelas redes sociais). Quando ele acabou seu relato, fez-se completo silêncio. Sofia resolveu quebrá-lo para perguntar:

– E… você conseguiu lembrar de sua receita?

– Não, infelizmente, não.

Um policial falou que teria que dar uma pena para o coelho, mas Sofia interviu:

– E a Páscoa? Ainda não dá tempo de fazer ovos de chocolate? Precisamos alegrar as crianças! E recuperar os ovos, claro… Eu pago a fiança para o Coelho.

– Hum… desculpe-me, mas isso é assunto de adultos e creio que seja melhor você se retirar daqui… – falou um dos policiais.

Porém, Miguel interferiu:

– Creio, Carson, que seja melhor você ouvir Sofia. Foi ela que teve a ideia de criarmos este último plano para capturarmos o assaltante. Bom, temos que decidir isso logo. Acho que temos que analisar bem os fatos…

Miguel e os outros policiais se reuniram em outra sala e ficaram debatendo sobre o assunto. No fim, foi decidido que o Coelho não precisaria pegar pena na prisão, mas pagar um valor e ligar para a polícia depois que sua receita sumisse de novo… A partir daquele dia, Sofia e o C.P viraram muito amigos, e ela criou um blog na internet onde ele poderia divulgar todas as suas receitas, assim, não teria como perdê-las e outras pessoas ainda poderiam acessá-las.

FIM

Grazie Maahs

19/04/2021